Relutei muito em escrever a primeira edição deste livro, já que, desde 2006, tenho publicado em meu blog, no portal Dicas-L, no LinkedIn e em vários outros lugares textos sobre Scrum e, junto de muitas outras coisas boas escritas por muita gente, pensei que não teria mais nada a acrescentar.
Meu editor original, Rubens Prates, da editora Novatec, abriu meus olhos para meu erro de interpretação, ao usar (não sei se proposital ou intuitivamente) minha característica de leitor contumaz como exemplo. Junto ao Prates, outro grande Rubens, o Queiroz, e mais um monte de bons amigos cobravam-me um livro, não necessariamente este aqui. Minha desculpa era sempre a mesma: se juntar tudo o que escrevi já dá mais de um livro! Mas não era a mesma coisa.
A gente aprende lendo na web, em artigos curtos e mesmo em coleções deles. Porém a relação com um livro é diferente. É de apego, companheirismo, amizade. Um livro a gente leva para a cama e custa a dormir enquanto conversa com ele. Um livro tem aquele cheirinho bom de livro. E, no fim das contas, eu tinha a obrigação, antes de tudo, de atender ao insistente pedido do Franklin Carvalho (autor do prefácio da primeira edição), que disse que eu estava sendo egoísta ao privar os meus leitores já fiéis e outros, que nem me conhecem, de ter um livro meu em suas mãos. O Franklin gosta de mim e, por isso, enche a minha bola. Entretanto, eu tenho que reconhecer que o Franklin está sempre certo, em todos os aspectos relativos à vida, ao universo e a todas essas coisas para as quais a resposta é 42.
Também, claro, foi impossível deixar de pensar que, afinal, já tendo traduzido milhares de páginas que acabaram em livros impressos e colaborado em vários outros, eu poderia dar-me o direito de permitir, a meus pensamentos, a honra do mesmo destino.
Então escrevi! As duas edições impressas se esgotaram e, entre elas e depois, sempre escrevi uma coisa que outra. Aprendi muito com as consultorias que prestava e que aumentaram muito depois que o livro saiu impresso. Resolvi que o livro seria uma “rolling edition”, algo que eu revisaria e ampliaria com novos aprendizados, na medida que o tempo permitisse. O tempo, esse bem tão raro e precioso.
Veio a pandemia, tempos de isolamento social e aprendizados inéditos. Nós os velhos agilistas (sou desses) sempre defendemos que uma boa equipe é aquela na qual todas as pessoas estão no mesmo lugar. A proximidade ajuda na criação do Ba! Aquele momento em que as ideias emergem de uma mente única, compartilhada entre todas as pessoas que trabalham juntas. A proximidade já não era mais possível. Como sair dessa? O melhor uso de velhas ferramentas? A criação de novas? E tudo isso sem deixar de acreditar que pessoas e suas interações são mais importantes que processos e ferramentas. O livro não estava desatualizado, mas carecia de uma discussão sobre esse novo momento. E a preocupação com a saúde física e mental das pessoas também deveria fazer parte dele.
