Em latim, “burrus” significa uma cor triste e escura. Essa é a origem da palavra francesa “bure”, a qual descreve a cor do tecido que cobria as escrivaninhas de todas as repartições públicas na França no século XVIII. Daí deriva “bureau”, que sintetizava o ambiente desses locais. Em grego, “krátos” significa regra ou poder, ou, ainda, regra de poder. Diz a história que foi o francês Jean-Claude Marie Vincent quem cunhou o termo “bureaucratie”, um morfismo que satirizava a ineficiência, a lentidão, a corrupção e a péssima qualidade dos serviços prestados pelo setor público em seu país na época. Wikipedia, grazie.
Um século mais tarde, Max Weber publicaria na Alemanha um estudo definitivo sobre a burocracia. Extraiu-lhe a essência: transparência de cargos e processos, comprometimento de todos em tempo integral, hierarquia autorregulada, agilidade e eficiência na prestação de serviços e, fundamentalmente, o aprimoramento das relações humanas. Um trabalho sociológico e jurídico irretocável, de grande envergadura. No entanto, a aceitação da caricatura prevaleceu entre nós em detrimento da seriedade da obra de Weber, e por razões mais do que óbvias.
No Brasil, a burocracia é o que é há séculos. Dos países BRICs, esta é a única nação que publicamente abomina a educação. Exportamos minérios, grãos, jogadores de futebol, entre outras coisas, mas nada de produtos do conhecimento. Continuamos sempre no carro de boi, entre saqueadores e no pensamento extrativista. O que deveria ser uma diretiva de estado aqui, o desenvolvimento de software, que é, antes de qualquer coisa, o conhecimento de nível superior adquirido e aplicado, requer baixo investimento e poderia rapidamente corroer nossa herança ignorante. Nosso patrimônio na área de exatas é uma triste estatística. A Índia tornou-se uma potência no assunto por simplesmente entender um mecanismo tão básico. É claro que houve outros componentes, mas isso foi determinante em sua trajetória industrial de sucesso. Nos Estados Unidos, o gigantismo do fenômeno norteou sua proeminência nas últimas cinco décadas perante o mundo. Se ocorrerem mudanças um dia por aqui, esta seria uma das mais benéficas.
Um dos alicerces da metodologia Scrum é o comprometimento. É o que um técnico de futebol traduziria como marcação “ómi a ómi” com “óio nos óio”, para se fazer entender frente aos estupefatos. A interação contínua entre as diversas especialidades de uma equipe, e também a reunião diária, gera métodos ágeis no desenvolvimento de produtos.
O Scrum originalmente foi testado e aprovado pela indústria automobilística, ao contrário do que muitos pensam – que ele seja do âmbito exclusivo do desenvolvimento de softwares. As editoras de livros de informática exibem em seus catálogos diversos títulos de linguagens de programação, de sistemas operacionais, de manuais de aplicativos, mas, que eu me lembre, posso contar nos dedos os livros como este, que aborda metodologias modernas de gestão de equipes de desenvolvimento de software. Já é um livro raro em sua concepção e merece um lugarzinho na cabeceira dos que apreciam informática.
No mesmo dia em que minha netinha nasceu, ao chegar em casa e consultar emails, li o tal do Subject, o qual já tinha cansado de esperar. Brod me pedia um prefácio. Duas excelentes notícias e a coincidência das cesarianas. Deus sabe o quanto implorei ao “meu Brod” este livro!
Scrum, se o Brod me perdoar um dia, e eu usando um discurso bem chulo para explicá-lo aos totalmente incultos, aqueles que têm certa preguicinha de ler além do prefácio, mas gostam de uma ação, me faz lembrar daquele filme ZZZ Os mercenários. Um é o rei da faca, outro é o rei do tiro, outro, o rei dos punhos, outro é o orangotango rei, outro é o rei do kung fu, o outro explode tudo o que vê na frente e o último, o estressado ex-KGB Boris, é rei dos eletrônicos, mas é desajeitado com “as blondes”.
No lobby do belíssimo hotel de estilo sotero-mesopotâmico, que em horas será apenas escombros, entreolham-se os especialistas, mas fingem ser absolutos desconhecidos. Um deles, sentado, lê uma revista de cabeça para baixo enquanto mapeia todos os presentes. É o gênio da operação, obcecado por anotar detalhes em um bloquinho. De repente, fleumático, soergue-se e retira-se absorto em conclusões. Todos o seguem para saber qual é o plano. Depois de ficarem meia hora debruçados sobre o mapa da ilha marcado com inúmeros X, analisam atentamente os detalhes e concluem que será naquela noite ou nunca, pois acabou o estoque de X.
Juntos, de caras pintadas e quase irreconhecíveis, derrotam impiedosamente em 20 minutos o cruel exército do tirano general, aquele da cicatriz vascaína na cara, em uma operação impecavelmente cronometrada. Libertam enfim a paradisíaca ilha do jugo infernal diante do frenesi apoteótico de todos os nativos. E ainda, de quebra, levam embora a provocante Lisa, herdeira da única fábrica de cerveja de todo o arquipélago, a que só usa shortinho e uma gota de Chanel, perdidamente apaixonada e bela, da selva para a metrópole, a bordo do hidroavião. XXXTREME!
Perdoe-me, Brod, mas juro que eu achei que podia!